O que você verá neste post
Nas Anotações Acadêmicas de 24/10/2024, aprofundamos o conehcimento com as Teorias Sociológicas do Crime, explorando várias abordagens que buscam explicar o comportamento desviante a partir das influências sociais e ambientais.
Essas teorias fornecem uma visão detalhada sobre como o ambiente e as interações sociais moldam o comportamento humano.
Após essa abordagem, foram introduzidas as Teorias do Conflito, que oferecem uma perspectiva crítica sobre o papel do sistema de justiça e a dinâmica de poder na sociedade.
Teorias Sociológicas do Crime
As Teorias Sociológicas do Crime enfatizam que o crime e o comportamento desviado não são apenas questões de escolha individual, mas estão profundamente enraizados no ambiente social e nas interações entre indivíduos. Essas teorias incluem:
Teoria Ecológica
A Teoria Ecológica sugere que o ambiente social e físico onde uma pessoa vive exerce uma influência significativa sobre seu comportamento.
Essa teoria parte da premissa de que áreas urbanas com altos índices de desorganização social — caracterizadas por infraestrutura precária, falta de serviços básicos e alta concentração de problemas sociais, como desemprego e violência — tendem a apresentar maiores taxas de comportamentos desviantes.
Nesse contexto, a criminalidade é vista como um reflexo das condições ambientais, sugerindo que a melhoria da infraestrutura e do suporte social nessas áreas poderia reduzir o crime de maneira significativa.
Teoria Espacial
A Teoria Espacial complementa a Teoria Ecológica ao focar na organização física e arquitetônica de uma cidade. Ela propõe que a disposição dos espaços urbanos, a qualidade do ambiente construído e a forma como as áreas residenciais e comerciais são estruturadas afetam o comportamento dos indivíduos.
Assim, áreas bem iluminadas, com infraestrutura adequada e espaços públicos acessíveis e cuidados, tendem a desestimular o crime, pois proporcionam maior vigilância e sensação de segurança.
Por outro lado, espaços abandonados e mal planejados podem se tornar locais propícios para atividades criminosas.
Teoria das Janelas Quebradas
A Teoria das Janelas Quebradas foi formulada por James Q. Wilson e George Kelling e defende que pequenos sinais de desordem, como janelas quebradas, pichações e lixo acumulado, podem desencadear uma escalada de comportamentos criminosos mais graves.
Segundo essa teoria, a presença de pequenos atos de vandalismo sinaliza a ausência de controle social, o que encoraja outras infrações. A proposta é que, ao corrigir rapidamente esses pequenos problemas, seja possível evitar o agravamento da criminalidade, pois se cria um ambiente de ordem que desencoraja ações ilícitas.
Teoria da Tolerância Zero
A Teoria da Tolerância Zero é uma extensão prática da Teoria das Janelas Quebradas. Popularizada pelo prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, na década de 1990, essa teoria sugere que todas as infrações, por menores que sejam, devem ser tratadas com rigor pelas autoridades.
Assim, a ideia é que a repressão imediata de pequenas infrações cria um ambiente onde o comportamento criminoso é desencorajado, pois há a percepção de que não haverá tolerância para qualquer ato ilegal.
No entanto, essa teoria é amplamente criticada por ser excessivamente punitiva e por abrir margem para práticas de discriminação e abuso de poder por parte das autoridades.
Teoria dos Testículos Quebrados
Esta teoria enfatiza a necessidade de uma atuação policial firme e inflexível, mesmo em relação a infrações menores ou crimes de menor potencial ofensivo.
A ideia central é que, ao aplicar rigor e pressão constante sobre os infratores, a polícia consegue desincentivar a presença e atividade de criminosos em determinadas áreas, fazendo com que busquem refúgio em outros locais.
Esse controle estrito visa a criação de um ambiente onde o comportamento desviado não encontra espaço para prosperar, reforçando uma postura de tolerância zero diante de qualquer tipo de desordem.
Teoria da Associação Diferencial
Proposta por Edwin Sutherland, a Teoria da Associação Diferencial afirma que o comportamento criminoso é uma aprendizagem social que ocorre através das interações com outras pessoas.
Segundo Sutherland, os indivíduos aprendem não só as técnicas, mas também as justificativas e motivações para o crime dentro de grupos onde o comportamento desviante é aceito ou incentivado.
Nesses grupos, as normas e valores que promovem a criminalidade são transmitidos de forma sistemática, tornando-se parte da identidade do indivíduo.
Sutherland introduziu o conceito de “crime do colarinho branco” para destacar que o crime não é exclusivo das classes desfavorecidas, sugerindo que até em contextos profissionais, as associações sociais moldam o comportamento e incentivam práticas ilegais.
Teoria da Anomia
A Teoria da Anomia foi desenvolvida inicialmente por Émile Durkheim e expandida por Robert Merton. Durkheim usou o termo “anomia” para descrever um estado de falta de normas claras e coesão social, no qual os indivíduos perdem o senso de direção e se sentem desconectados dos valores coletivos.
Merton adaptou essa ideia ao observar que, em sociedades onde o sucesso material é amplamente valorizado, mas nem todos têm acesso a meios legítimos para alcançá-lo, essa pressão social pode levar algumas pessoas a recorrer ao crime.
Para Merton, a anomia não é apenas uma ausência de normas, mas um desequilíbrio entre as metas culturais e os meios institucionais disponíveis para alcançá-las, o que aumenta a propensão ao comportamento desviante.
Teoria da Subcultura Delinquente
Albert Cohen, em seu livro Delinquent Boys (1955), desenvolveu a Teoria da Subcultura Delinquente ao observar que, em contextos de marginalização, certos grupos sociais formam normas e valores que entram em conflito com os da sociedade dominante.
Cohen argumenta que, para jovens em situação de exclusão social e sem acesso a cultura de qualidade, o reconhecimento e o status são frequentemente buscados por meio de subculturas alternativas que valorizam o comportamento desviante.
A falta de acesso a oportunidades de desenvolvimento e a uma cultura de qualidade contribui para a criação de uma “cultura inferior”. Grupos como pixadores e facções criminosas exemplificam essa subcultura, na qual as ações delinquentes oferecem aos indivíduos um meio de ganhar prestígio e pertencimento.
Cohen descreve três características principais que marcam essas subculturas:
- Não utilitarismo: Envolve ações sem propósito prático ou valor social evidente, como vandalismo e pichações.
- Malícia na conduta: Comportamentos provocativos e desafiadores, nos quais a agressividade é vista como uma forma de resistência.
- Negativismo: Oposição consciente aos valores convencionais, em que o comportamento delinquente é um modo de rejeitar as normas da sociedade dominante.
Para esses indivíduos, as subculturas delinquentes oferecem uma alternativa de reconhecimento e identidade. Em vez de seguir as normas convencionais, eles encontram pertencimento e status ao desafiar essas normas, criando uma cultura própria onde os atos ilícitos são formas de afirmação e prestígio.
Essas teorias sociológicas analisam o crime sob o ponto de vista das influências ambientais, das interações sociais e das pressões culturais, oferecendo uma perspectiva ampla e estruturada sobre as raízes sociais do comportamento desviante.
Teorias do Conflito
Após a análise das Teorias Sociológicas do Crime, a aula de 24/10/2024 passou a explorar as Teorias do Conflito.
Diferentemente das teorias sociológicas que analisam o crime como um produto das interações e pressões sociais, as Teorias do Conflito sugerem que o crime é também uma consequência das desigualdades e tensões estruturais na sociedade.
As Teorias do Conflito argumentam que as normas e leis refletem os interesses dos grupos dominantes, que utilizam o sistema de justiça como uma ferramenta para manter seu poder e controlar grupos marginalizados.
Dentro das Teorias do Conflito, foram abordadas:
Labelling Approach (Teoria do Etiquetamento)
Desenvolvida por Howard Becker e Erving Goffman, o Labelling Approach explora o impacto do rotulamento social na formação da identidade criminosa.
Segundo essa teoria, ao rotular alguém como “criminoso”, a sociedade contribui para que o indivíduo aceite e se identifique com esse papel, o que pode levá-lo a cometer mais crimes.
O etiquetamento funciona como uma profecia autorrealizável, onde o rótulo imposto pela sociedade influencia o comportamento futuro do indivíduo.
Teoria Crítica (Radical ou Nova Criminologia)
A Teoria Crítica, também conhecida como criminologia radical ou nova criminologia, foi defendida por Alessandro Baratta. Essa teoria argumenta que o sistema de justiça é seletivo e racialmente discriminatório, protegendo os interesses das classes dominantes enquanto marginaliza grupos mais vulneráveis.
A Teoria Crítica examina a forma como o sistema penal privilegia certos grupos e reprime outros, questionando a imparcialidade do sistema de justiça e destacando as desigualdades estruturais na sociedade.
Essas Teorias do Conflito enfatizam que o sistema de justiça e as normas sociais não são neutros, mas sim ferramentas de controle usadas para preservar o status quo e reprimir aqueles que estão fora dos grupos de poder.
Conclusão
A aula de 24/10/2024 cobriu duas abordagens amplas e fundamentais da criminologia: as Teorias Sociológicas do Crime e as Teorias do Conflito.
As Teorias Sociológicas fornecem uma base para entender como o ambiente e as interações sociais influenciam o comportamento desviante, enquanto as Teorias do Conflito desafiam a imparcialidade do sistema de justiça, sugerindo que ele serve aos interesses dos grupos dominantes.
Essas teorias são essenciais para uma compreensão crítica e abrangente da criminologia, mostrando que o crime é um fenômeno complexo, moldado tanto pelas condições sociais quanto pelas estruturas de poder.
Portanto, entender essas perspectivas é fundamental para abordar o comportamento criminoso de maneira justa e informada, considerando tanto o contexto social quanto as desigualdades estruturais.