O que você verá neste post
Introdução
As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 concentram-se no estudo dos negócios jurídicos sob a ótica do Direito Civil, com ênfase nos seus requisitos estruturais.
O negócio jurídico é uma das principais manifestações da autonomia privada e serve como instrumento para aquisição, modificação ou extinção de relações jurídicas, sendo essencial à vida em sociedade.
Sua análise sistemática permite compreender como a vontade das partes, aliada à observância de normas legais, pode produzir efeitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico.
Para tanto, o estudo divide-se em três planos fundamentais: existência, validade e eficácia. O plano da existência refere-se aos elementos mínimos que fazem surgir o negócio jurídico; o da validade, aos requisitos legais que o tornam apto a produzir efeitos; e o da eficácia, à produção efetiva desses efeitos no mundo jurídico, condicionada a fatores externos ou complementares.
Compreender esses planos é essencial para garantir a segurança jurídica nas relações privadas, evitando nulidades, anulabilidades e ineficácia dos atos.
Assim, este artigo tem por objetivo detalhar cada um dos planos do negócio jurídico, com base no Código Civil brasileiro e nas contribuições doutrinárias de autores como Gonçalves, Tartuce, Gagliano, Pamplona Filho e outros, oferecendo ao estudante uma visão clara, organizada e aplicável à prática jurídica.
Requisitos de Existência do Negócio Jurídico
O estudo dos negócios jurídicos no Direito Civil parte do plano da existência, etapa fundamental para que qualquer ato seja juridicamente reconhecido. Sem esse núcleo estrutural, não há sequer negócio a ser analisado sob os aspectos de validade ou eficácia.
1. Conceito e Elementos Essenciais
Conforme as Anotações Acadêmicas de 04/04/2025, o plano de existência exige a presença de dois elementos: a manifestação de vontade e a finalidade negocial.
A manifestação de vontade representa o desejo de praticar um ato jurídico, mesmo que ele venha a ser posteriormente considerado inválido ou ineficaz. Já a finalidade negocial diz respeito à intenção de produzir efeitos jurídicos — isto é, de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
Segundo Gonçalves (2020, p. 386), o negócio jurídico tem como propósito justamente essa finalidade negocial. Ele afirma que trata-se do “propósito de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos”.
O autor complementa, ainda, que “a existência do negócio jurídico, porém, depende da manifestação de vontade com finalidade negocial”, ou seja, com a intenção clara de produzir efeitos jurídicos no mundo das relações privadas (Gonçalves, 2020, p. 382).
2. Exemplo Prático Aplicado
Um exemplo citado por Gonçalves é o contrato de compra e venda, no qual as partes podem estabelecer livremente termos e condições, renunciar a determinados efeitos ou limitá-los, desde que tais cláusulas não contrariem normas legais.
Esse tipo de contrato demonstra a presença da manifestação de vontade com finalidade jurídica específica, ainda que os termos venham a ser discutidos quanto à validade ou eficácia em outro momento.
Ainda assim, esse contrato existiu juridicamente e pode, por isso, ser objeto de anulação ou correção, dependendo do caso.
Requisitos de Validade do Negócio Jurídico
De acordo com o artigo 104 do Código Civil, para que um negócio jurídico seja válido — ou seja, apto a produzir efeitos jurídicos reconhecidos —, é necessário que preencha três requisitos fundamentais: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.
Esses elementos compõem o plano da validade, e sua inobservância pode acarretar a nulidade ou anulabilidade do negócio. As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 destacam que a validade é condição imprescindível para a segurança jurídica, pois somente negócios válidos têm aptidão para ingressar plenamente no ordenamento.
Manifestação da Vontade: Fundamento Central da Validade
Antes de detalhar os requisitos do art. 104, cabe destacar a manifestação da vontade, tida como o elemento central do negócio jurídico. Conforme Tartuce (2020, p. 361), a vontade ou consentimento livre é pressuposto essencial e orientador da validade jurídica.
A vontade pode ser expressa — de forma verbal ou escrita, pública ou particular — ou tácita, quando decorre de comportamentos que indiquem aceitação. O art. 111 do Código Civil estabelece que o silêncio importa anuência quando as circunstâncias, os usos ou a própria natureza do negócio o autorizarem, e não for exigida declaração expressa.
Gonçalves (2020, p. 383) exemplifica essa regra com a chamada doação pura com prazo: o doador fixa prazo ao donatário para se manifestar. Se, dentro do prazo, o donatário não se opuser, presume-se a aceitação (art. 539 do CC).
1. Boa-fé objetiva e subjetiva
A interpretação da vontade deve observar os princípios da boa-fé. O art. 113 do Código Civil determina que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de celebração.
A boa-fé objetiva está ligada ao comportamento ético e transparente das partes — por exemplo, uma empresa de plano de saúde que notifica o consumidor de que, por conta da idade (65 anos), o plano não será renovado, atua dentro do princípio da lealdade contratual.
Já a boa-fé subjetiva refere-se ao estado interno do sujeito que desconhece eventual vício ou ilicitude. Exemplo: Luiz compra o carro de Miguel acreditando que ele é o verdadeiro proprietário, sem ter conhecimento do vício sobre a titularidade.
2. Interpretação conforme a vontade real
O art. 112 do Código Civil dispõe que, nas declarações de vontade, deve-se atender mais à intenção das partes do que ao sentido literal das palavras. Segundo Tartuce (2020), a norma busca proteger a vontade real das partes contratantes, afastando formalismos excessivos.
Um exemplo prático citado nas anotações é o caso do advogado Y, que firma contrato com um cliente prevendo 20% de honorários caso consiga restabelecer um benefício previdenciário. O cliente, ao ver o resultado favorável, recusa-se a pagar alegando que o contrato não previa expressamente esse pagamento. A interpretação da cláusula deve considerar a vontade efetiva das partes no momento da contratação, o que justifica a cobrança.
Além da manifestação da vontade, outros requisitos igualmente indispensáveis para a validade do negócio jurídico são os expressamente previstos no artigo 104 do Código Civil.
Trata-se de condições objetivas e subjetivas que, se ausentes ou violadas, comprometem a eficácia jurídica do negócio, podendo acarretar sua nulidade ou anulabilidade.
A seguir, serão examinados os três elementos centrais: agente capaz, objeto lícito, possível e determinado ou determinável, e forma prescrita ou não defesa em lei.
1. Agente Capaz
A capacidade civil é a aptidão para exercer pessoalmente os atos da vida civil. Gonçalves (2020, p. 389) ensina que se trata da “capacidade de fato ou de exercício”, necessária para a formação válida do negócio jurídico.
A regra geral é que a capacidade plena se adquire com a maioridade (18 anos) ou por emancipação (art. 5º do CC). Os absolutamente incapazes devem ser representados (art. 3º), enquanto os relativamente incapazes são assistidos (art. 4º).
O artigo 105 do Código Civil prevê que a incapacidade relativa não pode ser invocada pela parte capaz em benefício próprio, salvo quando o objeto for indivisível.
Exemplo prático das anotações: dois irmãos, um com 16 anos (relativamente incapaz) e outro com 21 (capaz), firmam contrato de compra e venda de uma vaca leiteira. Nesse caso, por ser indivisível o objeto e o menor não estar assistido, o negócio é inválido para ambos.
2. Objeto Lícito, Possível e Determinado
O objeto é um dos elementos essenciais à validade do negócio jurídico, conforme dispõe o art. 104, II, do Código Civil. Para ser juridicamente válido, o objeto deve atender cumulativamente a quatro requisitos: ser lícito, possível, determinado ou determinável.
Objeto lícito
Segundo Gonçalves (2020, p. 391), considera-se lícito o objeto que não contraria a lei, a moral ou os bons costumes. Isso significa que ele deve estar em conformidade com a ordem jurídica e com os princípios fundamentais da convivência social. A doutrina ainda destaca que a licitude está intimamente relacionada à finalidade do negócio e à boa-fé das partes.
Exemplos de objetos lícitos:
Contrato de compra e venda de imóvel residencial.
Contrato de prestação de serviços de carpintaria.
Contrato de locação de imóvel comercial.
Já os objetos ilícitos são aqueles que afrontam normas legais ou princípios fundamentais. A celebração de negócio com objeto ilícito acarreta a sua nulidade absoluta, nos termos do art. 166, II, do Código Civil.
Exemplos de objetos ilícitos:
Contrato de prestação de serviços de matador de aluguel.
Contrato de compra e venda de substância entorpecente (maconha).
Objeto possível
A possibilidade do objeto é também imprescindível. Caso o objeto seja impossível, o negócio será nulo, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial. A impossibilidade pode ser:
Física: quando contraria as leis da natureza, como no exemplo citado por Gonçalves (2020, p. 392): a obrigação de colocar toda a água dos oceanos em um copo d’água. Essa impossibilidade é absoluta e atinge todos de forma indistinta.
Jurídica: ocorre quando a lei proíbe o conteúdo do negócio, como exemplificado no art. 426 do Código Civil — que veda contrato sobre herança de pessoa viva. Também é o caso da tentativa de partilha de bem que não pertence ao casal durante o divórcio.
Exemplo de objeto possível: divórcio e meação de bens comuns do casal, desde que estejam em regime de comunhão parcial.
Objeto determinado ou determinável
A determinação do objeto é essencial para a sua execução. O objeto pode ser:
Determinado: é específico e identificado desde o início, como por exemplo “mil canetas azul BIC”.
Determinável: é aquele que pode ser identificado no futuro com base em critérios como espécie, quantidade, qualidade ou gênero. Exemplo: “entregar 10 bolos”, desde que se saiba o tamanho e o sabor (art. 234 do CC).
A aula destacou que no Direito Civil é admitida a venda de coisa incerta, desde que haja clareza sobre o gênero e a quantidade, sendo possível posteriormente a individualização com base em critérios definidos.
Portanto, é essencial que o objeto do negócio jurídico seja certo, possível e permitido pelo ordenamento jurídico. Caso contrário, o negócio estará viciado, comprometendo sua validade.
As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 reforçam que esse elemento atua como pilar para a segurança jurídica das relações civis, especialmente por impedir a formação de obrigações fundadas em finalidades ilícitas ou irrealizáveis.
3. Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei
A forma é, em regra, livre (art. 107 do CC). Isso significa que a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, salvo nos casos em que a lei expressamente exigir. A ausência de forma prescrita ou a inobservância de solenidade essencial imposta por norma legal pode tornar nulo o negócio jurídico.
Segundo Gonçalves (2020, p. 393), o ordenamento jurídico brasileiro admite diversas formas: escrita ou verbal, pública ou particular. A escolha da forma visa proporcionar maior segurança e seriedade ao ato jurídico. O princípio do consensualismo predomina, sendo a liberdade a regra e o formalismo, a exceção.
Tartuce (2020) complementa que as formalidades exigidas por lei têm a função de garantir a autenticidade do negócio e facilitar sua prova. Além disso, a forma está ligada à garantia de segurança jurídica, o que explica a relevância do respeito aos modelos legais previstos.
Existem três espécies de forma:
- Forma livre: qualquer meio de manifestação da vontade não proibido por lei — pode ser escrita ou falada, pública ou particular, incluindo também gestos, mímicas etc.
- Forma especial ou solene: quando a lei exige determinada formalidade como condição de validade do negócio (exemplo: art. 108 do CC).
- Forma contratual: quando as partes convencionam entre si que o negócio só produzirá efeitos mediante forma específica. De acordo com o art. 109 do Código Civil, se as partes estipularem que o negócio jurídico só terá validade com instrumento público, essa forma passa a integrar a substância do ato.
Essas distinções são fundamentais porque impactam diretamente na validade do negócio jurídico. A ausência de forma quando exigida ou a violação de convenção contratual pode invalidar o ato, mesmo quando todas as demais condições estiverem presentes.
4. Efeitos da Invalidade: Nulidade e Anulabilidade
Se os requisitos de validade não forem atendidos, o negócio pode ser nulo ou anulável.
Nulidade: ocorre nos casos de violação grave, como objeto ilícito ou forma proibida (arts. 166 e 167).
Anulabilidade: aplica-se quando há defeitos sanáveis, como negócios celebrados por relativamente incapazes ou com vício de consentimento (art. 171).
As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 reforçam que a distinção entre nulidade e anulabilidade é essencial para avaliar os efeitos e a possibilidade de convalidação do negócio jurídico.
Plano de Eficácia do Negócio Jurídico
Enquanto os planos de existência e validade tratam da formação do negócio jurídico, o plano da eficácia cuida da produção de efeitos concretos na esfera jurídica das partes. Um negócio pode existir e ser válido, mas não produzir efeitos se carecer de algum requisito externo necessário para sua atuação prática.
As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 apontam que a eficácia é o momento em que o negócio jurídico “entra em funcionamento” no mundo jurídico, gerando direitos e obrigações entre as partes envolvidas.
1. Conceito e Relevância
Segundo Braga Netto e Farias (2022, p. 208), o plano de eficácia diz respeito ao surgimento efetivo das relações jurídicas obrigacionais, com seus direitos, deveres, pretensões e obrigações.
Ou seja, não basta que o negócio exista e seja válido — é preciso que ele esteja pronto para produzir efeitos jurídicos.
Um contrato de compra e venda, por exemplo, só será eficaz após o cumprimento de requisitos como registro (em caso de imóvel), pagamento ou decurso de prazo.
2. Fatores que Condicionam a Eficácia
Diversos elementos podem condicionar, suspender ou impedir a eficácia de um negócio jurídico. Entre os principais, destacam-se:
Condições suspensivas ou resolutivas (arts. 121 a 130 do CC);
Prazo para início de efeitos;
Registro público (em cartório, para certos atos como compra de imóvel);
Autorização de terceiros ou do poder público, em alguns casos.
Esses elementos não anulam o negócio, mas impedem ou adiam a sua atuação plena. Assim, o negócio só será plenamente eficaz quando cumpridos esses requisitos externos.
3. Boa-fé e Execução dos Efeitos
A boa-fé objetiva, destacada nas Anotações Acadêmicas de 04/04/2025, também exerce papel importante na eficácia. Mesmo após firmado, o negócio deve ser executado com lealdade, transparência e ética, conforme determina o art. 422 do Código Civil.
O descumprimento da boa-fé durante a execução do negócio pode gerar consequências jurídicas, como responsabilidade civil e indenização por perdas e danos.
Conclusão
As Anotações Acadêmicas de 04/04/2025 proporcionam uma visão sistemática e aprofundada dos elementos que estruturam o negócio jurídico no Direito Civil.
A compreensão dos três planos — existência, validade e eficácia — é essencial não apenas para a análise teórica, mas principalmente para a aplicação prática no exercício da advocacia e na resolução de conflitos.
O plano da existência representa a base estrutural do negócio, exigindo a presença da manifestação de vontade com finalidade negocial. Já a validade envolve o cumprimento de requisitos legais previstos no artigo 104 do Código Civil, como agente capaz, objeto lícito e forma adequada. A ausência de qualquer um desses elementos pode acarretar nulidade ou anulabilidade.
Por fim, o plano da eficácia diz respeito à produção dos efeitos jurídicos concretos, o que depende de fatores externos como o registro, prazo, condição ou autorização. A boa-fé objetiva, nesse contexto, atua como um princípio norteador da execução dos efeitos do negócio jurídico, protegendo a confiança e o equilíbrio entre as partes.
Dessa forma, conhecer e distinguir esses três planos é essencial para garantir a segurança das relações jurídicas e evitar a invalidação de atos que, à primeira vista, pareçam válidos.
Para estudantes, operadores do Direito e interessados no tema, dominar essa estrutura é passo fundamental para a correta interpretação e aplicação do Direito Civil contemporâneo.