Anotações Acadêmicas de 25/06/2024: Sistema Penal e Constituição no Brasil

Este artigo resume uma entrevista enriquecedora com Misael França e Mateus Pinheiro, explorando desafios críticos e reformas necessárias no sistema de justiça criminal brasileiro, destacando abordagens para melhorar a justiça e a igualdade social.
Sistema Penal e Constituição

O que você verá neste post

Este artigo traz as Anotações Acadêmicas de 25/06/2024, um resumo detalhado do evento “Diálogos com o Direito Especial: Compartilhamento de Saberes entre as Turmas da FBBR e da UFBA“, uma sessão rica em discussões jurídicas e sociais. 

O destaque foi a presença do ilustre professor Misael França, jurista e coordenador do mestrado de segurança pública e cidadania na Universidade Federal da Bahia entrevistado pelo Professor Mateus Pinheiro, professor da Unijorge

Este evento proporcionou uma plataforma para explorar as complexidades do sistema de justiça criminal brasileiro e suas intersecções com a Constituição Federal.

Justiça Criminal no Brasil

Os debates abriram com uma crítica contundente ao sistema penal brasileiro, marcado por falhas estruturais e desigualdades. Os participantes analisaram a influência das políticas de justiça criminal americanas, especialmente a abordagem de “tolerância zero” e suas repercussões, como o encarceramento em massa. 

A discussão sublinhou a urgente necessidade de adotar uma criminologia crítica e uma perspectiva abolicionista que questione as bases do sistema penal atual.

Além disso, o evento focou na importância de fortalecer órgãos de justiça como o Ministério Público e a Defensoria Pública, que são essenciais para garantir a implementação efetiva dos direitos e para a promoção de uma justiça mais equânime e menos punitiva. 

As propostas apresentadas visam reformar profundamente o sistema, tornando-o mais justo e menos opressivo para as populações vulneráveis.

Desafios do Sistema Jurídico

A segunda parte do evento foi dedicada a explorar os desafios enfrentados pelo sistema jurídico brasileiro, com um foco particular nas condições precárias das prisões. 

Os oradores destacaram a ausência de políticas eficazes de ressocialização, que deveriam reabilitar os encarcerados mas, ao contrário, frequentemente agravam o ciclo de violência e marginalização. 

A discussão também abordou o racismo institucional e a desigualdade social como fatores que perpetuam a injustiça e a ineficiência dentro do sistema penal.

Uma ênfase especial foi colocada na necessidade de uma abordagem humanística do direito, que considere as pessoas não apenas como agentes jurídicos, mas como seres humanos com direitos e necessidades fundamentais.

Este ponto de vista busca moldar um sistema jurídico que seja mais inclusivo e que promova efetivamente a justiça e a igualdade.

Racismo e Desigualdade

A conversa então se aprofundou no impacto devastador do racismo estrutural dentro do sistema de justiça criminal, enfatizando como esse racismo afeta desproporcionalmente as populações negras, pobres e periféricas.

Os palestrantes discutiram a importância crítica de reconhecer e elevar o papel das mulheres negras na sociedade, promovendo políticas que sejam verdadeiramente inclusivas e que combatam as desigualdades sistêmicas.

Essa parte da discussão realçou como a estrutura racista do sistema não apenas exclui, mas também penaliza baseada em preconceitos raciais e socioeconômicos arraigados, demandando uma revisão profunda e uma abordagem que integre a justiça social como um componente central da prática legal. 

As propostas para enfrentar esses desafios incluem iniciativas que fomentem a inclusão e que garantam que as políticas e práticas jurídicas reflitam a diversidade e a complexidade da sociedade brasileira.

Segurança Pública

A discussão sobre segurança pública focou especialmente nos desafios enfrentados pelo estado da Bahia, notadamente a alarmante taxa de violência contra a comunidade LGBTQ+.

Os participantes destacaram a urgência de abordagens interdisciplinares que engajem não apenas o setor de segurança pública, mas também a educação, a saúde, e o setor privado para criar soluções eficazes e sustentáveis. 

Enfatizou-se a necessidade de parcerias entre diferentes setores da sociedade para abordar a crise de segurança de forma holística, visando não apenas a repressão, mas também a prevenção e a educação.

Perspectivas Críticas e Alternativas

Nesta seção, os palestrantes exploraram a necessidade de inovar nas abordagens ao sistema penal e de justiça criminal. 

Discutiu-se a importância de processos de desidentificação em comissões públicas para evitar viés e promover a igualdade, enfatizando a necessidade de mudanças estruturais que transcendam as soluções tradicionais. 

A conversa também abordou estratégias para combater o crime organizado, destacando a importância de medidas preventivas e de desencarceramento, além de atacar a estabilidade econômica das organizações criminosas através de leis como a Lei 12.850, que foca na dissolução de associações criminosas e no combate à corrupção.

Pensamento Crítico no Direito

A sessão destacou a importância vital de cultivar um pensamento crítico robusto nos estudos jurídicos. 

Ressaltou-se a necessidade de os estudantes de direito não apenas absorverem conhecimentos, mas também de questionarem e reavaliarem as normas existentes e as abordagens tradicionais à justiça. 

Foi incentivado que os alunos desafiem os paradigmas vigentes e explorem novas perspectivas que possam levar a uma maior justiça e equidade na aplicação da lei.

Vídeo Completo da Entrevista com Misael França​

Conclusão

Este diálogo proporcionou uma análise profunda dos desafios contemporâneos enfrentados pelo sistema de justiça criminal no Brasil, desde a inadequação das políticas de ressocialização até as profundas questões de racismo e desigualdade que permeiam o sistema. 

Os pontos levantados ressaltam a necessidade urgente de reformas que promovam não só uma justiça mais eficaz, mas também mais humana e socialmente responsável. 

Reflexões finais dos participantes enfatizaram a importância contínua da educação jurídica crítica como um meio de capacitar a próxima geração de juristas a serem agentes de mudança na promoção da justiça social.

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