O que você verá neste post
A Linguagem Jurídica e Seus Desafios estão entre os maiores obstáculos para tornar o Direito mais acessível a diferentes públicos.
Neste artigo, vamos explorar como os operadores do Direito podem adaptar a comunicação jurídica sem perder a precisão técnica, abordando os níveis da linguagem e seus impactos.
Entenda como superar esses desafios para aproximar o Direito da sociedade e democratizar o acesso à Justiça.
Introdução
Você já teve dificuldade em compreender um documento jurídico ou se sentiu perdido diante de termos técnicos excessivamente complicados? Essa é uma realidade comum, especialmente para o público leigo, que muitas vezes se depara com uma barreira linguística ao buscar seus direitos.
A linguagem jurídica é reconhecida por sua formalidade, tecnicidade e precisão, características essenciais para evitar ambiguidades nas normas e decisões. No entanto, esse rigor técnico pode se transformar em um entrave, afastando o Direito da população.
Neste artigo, vamos discutir como a linguagem jurídica pode ser adaptada para diferentes públicos — clientes, tribunais e a sociedade em geral — sem perder a formalidade necessária.
Abordaremos as diferenças entre linguagem formal, coloquial e técnica, a importância do sentido conotativo e denotativo, estratégias para simplificar o jargão jurídico e a relevância de uma comunicação acessível para democratizar a Justiça.
Diferença entre linguagem formal, coloquial e técnica no Direito
A linguagem é uma ferramenta poderosa no Direito. Cada tipo de comunicação exige um nível adequado de formalidade, e entender essas nuances é essencial para advogados, juízes e todos os operadores do sistema jurídico.
Linguagem formal no Direito
A linguagem formal é aquela utilizada em peças processuais, pareceres e documentos oficiais. Caracteriza-se pelo uso de termos rebuscados, construções sintáticas complexas e um vocabulário rigorosamente técnico.
Exemplo: “Requer-se a vênia para suscitar questão de ordem processual atinente à intempestividade da peça exordial.”
Embora a formalidade seja essencial em contextos como a comunicação com tribunais, ela pode ser um obstáculo quando utilizada com clientes que não possuem familiaridade com os termos jurídicos.
Linguagem técnica no Direito
Já a linguagem técnica se distingue por seu foco na precisão e especificidade. Ela é utilizada para descrever conceitos jurídicos de forma clara e objetiva para aqueles que possuem formação na área.
Exemplo: Termos como “prescrição”, “litispendência” e “ônus da prova” são comuns na linguagem técnica, mas podem ser incompreensíveis para o público leigo.
Linguagem coloquial no Direito
A linguagem coloquial é mais simples e acessível, sendo utilizada em contextos onde a compreensão é prioridade, como em reuniões com clientes, palestras ou ações educativas.
Exemplo: Substituir “exordial” por “início do processo” ou “petição inicial” torna a explicação mais clara para um cliente leigo.
No entanto, o desafio está em equilibrar a simplicidade com a precisão técnica, evitando a perda de significado jurídico.
O impacto da escolha entre sentido conotativo e denotativo na argumentação jurídica
A forma como os operadores do Direito utilizam os sentidos conotativo e denotativo das palavras pode influenciar significativamente a comunicação e a argumentação jurídica.
Sentido denotativo no Direito
O sentido denotativo refere-se ao significado literal e objetivo de uma palavra. No Direito, ele é essencial para garantir a precisão e evitar ambiguidades.
Exemplo: No caso de um contrato, o termo “inadimplemento” tem um significado técnico claro: o não cumprimento de uma obrigação.
Sentido conotativo no Direito
O sentido conotativo, por outro lado, refere-se aos significados subjetivos e simbólicos que uma palavra pode assumir. Embora seja menos usado em textos normativos, ele é comum em discursos argumentativos e peças que buscam persuadir.
Exemplo: Em um tribunal do júri, uma defesa pode utilizar palavras como “justiça” ou “compaixão” para provocar uma resposta emocional nos jurados.
Riscos da má utilização
A escolha errada entre o uso conotativo e denotativo pode gerar interpretações equivocadas ou até prejudicar a clareza da argumentação jurídica. Por isso, é importante avaliar o contexto e o objetivo da comunicação antes de optar por um ou outro.
Como simplificar o jargão jurídico sem perder precisão
Tornar a linguagem jurídica mais acessível é uma demanda crescente, mas simplificar termos técnicos sem comprometer a precisão requer estratégia.
Identificando o público-alvo
O primeiro passo é entender quem é o receptor da mensagem. A forma de se comunicar com um juiz será diferente daquela usada com um cliente leigo.
- Estratégia para juízes: Utilizar linguagem técnica e formal, priorizando a clareza argumentativa.
- Estratégia para clientes: Adaptar termos técnicos em explicações simples e diretas.
Substituindo termos complexos por explicações claras
Uma forma eficaz de simplificar o jargão jurídico é substituir palavras rebuscadas por expressões mais simples ou incluir explicações.
Exemplo prático:
- Jargão técnico: “A pretensão da autora encontra óbice na prescrição quinquenal prevista no artigo 206, §5º, do Código Civil.”
- Forma simplificada: “O direito de cobrar está limitado a cinco anos, conforme prevê o Código Civil.”
Uso de analogias e exemplos concretos
Analogias e exemplos do cotidiano ajudam a ilustrar conceitos jurídicos complexos, tornando-os mais compreensíveis para o público leigo.
Exemplo: Explicar “prescrição” como o “prazo de validade” de um direito facilita o entendimento para alguém que não conhece o termo técnico.
A importância de uma linguagem acessível para democratizar o acesso à Justiça
A linguagem jurídica desempenha um papel central na democratização do acesso à Justiça, especialmente em um país como o Brasil, onde grande parte da população possui baixa escolaridade.
Barreiras linguísticas no acesso à Justiça
O excesso de formalidade e tecnicidade da linguagem jurídica cria barreiras que dificultam o entendimento dos direitos e deveres pelos cidadãos. Muitas pessoas não entendem os documentos que assinam ou os processos em que estão envolvidas, gerando insegurança e desconfiança no sistema jurídico.
Iniciativas para popularizar o Direito
Várias iniciativas têm buscado aproximar o Direito da sociedade por meio de uma comunicação mais clara e acessível.
Exemplo: Cartilhas explicativas, vídeos educativos nas redes sociais e projetos de educação jurídica em escolas.
Caso de sucesso: O projeto “Direito Para Todos”, que utiliza linguagem simples e exemplos práticos para ensinar direitos básicos a comunidades vulneráveis.
O papel do advogado como comunicador
Advogados desempenham um papel fundamental na mediação entre o sistema jurídico e a sociedade. Adotar uma linguagem acessível fortalece a relação de confiança com os clientes e contribui para a compreensão e efetivação dos direitos.
Assim, clientes bem informados tendem a se sentir mais seguros e engajados no processo judicial, além de evitar mal-entendidos que podem comprometer o andamento do caso.
Conclusão
A linguagem jurídica, apesar de essencial para a formalidade e precisão do Direito, muitas vezes se torna um obstáculo para aqueles que não têm formação na área. Equilibrar a tecnicidade com a acessibilidade é um desafio que exige esforço contínuo dos operadores do Direito.
Ao longo deste artigo, exploramos as diferenças entre os níveis de linguagem no Direito, a importância de adaptar o discurso para diferentes públicos e como a simplificação do jargão jurídico pode democratizar o acesso à Justiça.
Além disso, vimos que uma comunicação clara fortalece a confiança dos clientes e promove uma Justiça mais inclusiva.
Para advogados e juristas, adaptar a linguagem jurídica sem perder precisão não é apenas uma questão de técnica, mas um compromisso com a construção de um sistema jurídico mais justo e acessível.
Se você é um operador do Direito, comece hoje a revisar como se comunica com seus clientes e a sociedade. Um Direito mais acessível começa com uma linguagem mais clara e empática.